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Cultura Afro-Brasileira: saiba mais sobre os hábitos e influências

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Cultura afro-brasileira é toda a manifestação cultural realizada no Brasil com influência ou tradição africana. O Brasil é um dos países com maior influência africana, já que são mais de 4 milhões de homens afrodescendentes.

Ela é fundamento e riqueza deste nosso país altamente miscigenado culturalmente. Sua presença é tão forte e fundamental que cada dia mais se faz necessário conhece-la e difundi-la, promovendo o respeito e a integridade. Estamos falando da cultura afro-brasileira, que encontramos em todos os lugares, seja em viagens turísticas, nas pinturas, em poemas, músicas, novelas, filmes etc. Hoje em dia ainda podemos aprender mais através de workshops, seminários, palestras, cursos online, e outros mecanismos que nos ajudam a conhece-la melhor.

Qual a sua relação com a cultura afro-brasileira?        

Vamos analisar um pouco nossa relação com a cultura afro-brasileira. Por exemplo, vamos observar o uso que fazemos da palavra “escravo”. É comum ouvirmos e lermos diversas vezes que “escravos foram trazidos da África” ou que “o Brasil foi culturalmente influenciado pelos escravos”.  Seria mais correto usarmos os termos “africanos”, pois a usar a palavra escravo, dá a impressão de ser natural o que era uma condição forçada naquele momento.

Relembre alguns fatos importantes

 

No período colonial, os africanos escravizados por Portugal foram trazidos de algumas regiões específicas da África, os Bantos  vinham de Angola, Congo e Moçambique,  enquanto os Sudaneses vinham da região ocidental do continente africano,  do Sudão e da Costa da Guiné. A povoação do território brasileiro pelos africanos foi mais intensa na Bahia, Pernambuco, Maranhão, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo e Rio Grande do Sul.

Os navios negreiros também eram conhecidos com “tumbeiros” pois muitos africanos morriam na viagem devido às péssimas condições em que eram transportados.  Nas maiores embarcações, o número de negros transportados, em condições deploráveis, chegava a 400, e eram separados em homens, mulheres, crianças e mulheres grávidas.  No período em que o comércio de escravos foi permitido, calcula-se que só o Brasil teve em torno de 4 milhões de africanos escravizados no seu território. Duas vezes a população de Curitiba, em números de hoje.

Chegando aqui, seus costumes foram duramente reprimidos, mas não foram sufocados por completo. A comunidade negra mesmo escravizada mantinha algumas de suas práticas culturais e tradições.  Esses costumes, como a maneira de preparar alimentos, danças, músicas e rituais religiosos são hoje parte integrante da diversidade da  cultura brasileira.

Você sabia que o Brasil foi o último país a libertar os escravos?

Sabe aquela imagem da Princesa Isabel, assinando a Lei Áurea, e os milhares de escravos sendo libertados felizes das senzalas, fazendas e canaviais? Pois é, isso é coisa de novela, não foi bem assim.

Muito antes da Abolição, no ano de 1850, por pressão da Inglaterra, foi assinada a Lei Eusébio de Queirós, nome do ministro que pôs fim ao tráfico internacional de escravos para o Brasil. Em 1870, surgem as primeiras manifestações abolicionistas no país, e no ano seguinte, José Maria da Silva Paranhos – o Visconde do Rio Branco – promulga a Lei do Ventre Livre, que dá liberdade aos filhos e filhas de escravos nascidos a partir daquela data. E em 1885 é sancionada a lei Saraiva-Cotegipe, popularmente conhecida como a Lei dos Sexagenários, que libertava escravos com idade maior de 60 anos e compensava seus proprietários. Lógico que essa lei foi pouco útil, e muito criticada pelos que defendiam a libertação dos escravos, pois poucos chegavam a essa idade.

Em 1888, a Lei Áurea foi assinada. A maioria das nações já tinha abolido a escravidão, o movimento abolicionista já era intenso no país, e o Brasil foi o último país americano a libertar seus escravos.

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A aceitação dos Costumes dos Africanos

Os costumes e crenças dos africanos não eram aceitos socialmente, mesmo após a Abolição. Aliás, após a lei Áurea, os africanos sofreram com a condição inferiorizada que foi imposta pela sua falta de estudos ou de profissão. Seus costumes somente passaram a ser aceitos como parte da diversidade da nossa cultura nacional no século XX, mais especificamente nos anos 30, no governo de Getúlio Vargas.

Desde então, a relação da sociedade brasileira com a cultura afro-brasileira, caminhou a passos de tartaruga. Atendo a uma antiga demanda de movimentos ligados à essa questão, foi sancionada no Brasil, há 13 anos,  a Lei 10.639, que tornou obrigatório o estudo da cultura afro-brasileira, de História da África, do negro na formação da sociedade brasileira, entre outros conteúdos relacionados à imensa contribuição africana para a nossa nação. Este conteúdo deve ser aplicado nos ensinos Fundamental e Médio.

Como já sabemos, mudanças geram conflitos, e por mais bem-intencionada que seja a Lei, ela vai fazer com que o currículo escolar mude, e exigir que os profissionais da educação se adaptem à essas nova realidade e busquem maior conhecimento no assunto, que mesmo sendo de grande valor cultural, exige mais tempo e preparação.

Além disso, existe uma necessidade da promoção de uma consciência de igualdade. Mesmo para os que não são educadores ou professores, conhecer a cultura afro-brasileira é essencial para a propagação do pensamento igualitário e de combate à discriminação. Não há dúvidas de que a segregação e o racismo no Brasil são motivadas pela falta de conhecimento desta história.

O Dia da Consciência Negra

A lei 10.639 também determinou que o dia 20 de Novembro, dia da morte do líder Zumbi dos Palmares, fosse instituído como  o Dia da Consciência Negra. Zumbi foi líder do Quilombo dos Palmares, o maior refúgio de escravos fugitivos do país, localizado na Serra da Barriga, em Alagoas. Consta que esse quilombo chegou a ter 20 mil pessoas. Zumbi foi o último líder desta comunidade, sendo morto pelas forças do governo em 1695.

A data é utilizada para relembrar a luta dos negros no Brasil, para promover o combate ao racismo e outras demandas diversas da população negra. Hoje os negros são 54% da População do País.  E sua imensa maioria está localizada nas camadas mais pobres da população. É um momento de reflexão e de grande importância para propagar a cultura afro-brasileira.

Culinária Afro-Brasileira

No século XVI, a culinária africana foi aos poucos sendo incorporada à brasileira, com alimentos assados, cozidos ou tostados com predominância da carne de caça. Muitas variedades de feijão, inhame,  pimenta, gengibre, e óleos vegetais, em especial o azeite-de-dendê. Estes ingredientes são a base de pratos hoje famosos como o acarajé, o vatapá e caruru.

Boa parte dos dotes culinários africanos está diretamente ligado à cozinha religiosa. As oferendas aos orixás também estão basicamente montadas por estes ingredientes, e também com o milho, o coco e muita farinha para preparar o cardápio sagrado, com o  amalá, o ipete, acaçá e também as bebidas de santo, como o aluá, feito de milho rapadura, gengibre e água. Esse “cardápio sagrado” são as oferendas feita aos Orixás, que são preparadas nas cozinhas dos terreiros, para agradar aos deuses do panteão africano.

O que é que a Baiana tem?

No fim do século XVIII,  um cronista chamado Luis Carlos dos Santos Vilhena, escreveu uma série de cartas  para um amigo em Portugal, onde descreve uma situação interessante nas ruas da Bahia: das casas mais abastadas, saíam às vezes oito ou dez negros para vender nas ruas pamonhas, canjicas, acaçás, abarás, acarajés e muitos outros produtos. Esta é uma amostra considerável de pratos africanos, pois na época já se vendiam nas ruas produtos indígenas e os conhecidos doces portugueses. E hoje, mais de duzentos anos depois o acarajé e outro produtos ainda são vendidos por lá, pelas famosas baianas, que são consideradas Patrimônio Cultural do Brasil.

A Feijoada é Nossa?

Mas é impossível falar da culinária afro-brasileira, sem falar da nossa queridíssima feijoada. Há uma polêmica envolvendo a origem do prato, que foi disseminada, inclusive oficialmente como sendo uma mistura preparada nas senzalas com os restos das casas grandes.  Alguns historiadores contestam essa versão. É provável que o prato tenha sido consumido igualmente por todos, escravos e patrões, pois a alimentação no Brasil colonial era muito escassa e difícil, e os escravos não poderiam ficar mal alimentados pois assim não conseguiriam realizar suas tarefas.

Polêmicas à parte, além destes pratos, os africanos colocaram muitos temperos  na nossa culinária diária, como o açafrão, o azeite-de-dendê e o leite de coco. Outra curiosidade é a pimenta-da-costa, que como outros produtos (palha-da-costa, pano-da-costa, inhame-da-costa), tem seu nome ligado à região africana da costa atlântica.

 

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Música e Dança

Outra característica que o povo africano nos trouxe com muita propriedade foi sua alegria, e a música é uma das expressões mais autênticas desta comunidade. A mais conhecida, sem dúvida é o samba. As mais voltadas às raízes são o Maracatu, o Maxixe, o Maculelê, Jongo e Carimbo.   O Maculelê também se enquadra como dança folclórica, e ainda temos o tradicional Samba de Roda, uma variação musical do samba.

No período colonial, a Capoeira era mostrada como uma dança, mas que na realidade tinha a finalidade de ser uma luta marcial. A artimanha foi notada, e uma perseguição culminou com a proibição de sua prática, mesmo depois da Abolição. Já na República, Marechal Deodoro da Fonseca oficializou a proibição que durou mais de 50 anos. Hoje, a Capoeira é considerada esporte, e foi declarada pela Unesco como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade no ano de 2014.

As manifestações afro-brasileiras também estão nas danças rituais, no Tambor de Crioula, e de maneira atual, no samba-reggae e no axé baiano.

Religiões Afro-Brasileiras

No início a religião dos africanos era praticada de uma maneira velada, pois seus cultos aos orixás não eram permitidos pelo clero católico.  A elite da época aprovava a liberação do culto às divindades africanas, mas o motivo não era dos mais nobres. Como vinham de diferentes partes da África, os escravos traziam, além de crenças em diferentes divindades, também uma rivalidade. Com essa rivalidade acesa, será mais fácil dominá-los, evitando motins e levantes. Dividir para conquistar, parece clichê, mas na época não era.

A Igreja chegou a tentar converter muitos dos escravos, que acabavam até assumindo o batismo cristão, mas sem deixar o culto aos orixás. Algumas vezes eram punidos, e outras simplesmente ignorados enquanto dançavam e cantavam seus cantos sagrados. Algumas festas religiosas dos escravos aconteciam, inclusive no mesmo dia de festas católicas. Talvez numa forma de provocação, ou colaboração com os integrantes da elite colonial.

Durante muito tempo, os escravos também cultuaram suas divindades de maneira disfarçada, utilizando nos seus cultos imagens de santos católicos. Essa era a prática do sincretismo religioso.

O fato é que por serem muitas divindades e cultos diferentes, essas religiões africanas rapidamente se espalharam pelo país. O Candomblé, como conhecemos, é um nome genérico dado ao culto aos orixás jeje-nagôs, e algumas derivações, manifestadas em diversas nações. Sua doutrina está nas forças personificadas da natureza, não há relação com céu ou inferno, e os orixás têm características bem humanas, são geniosos, ciumentos e temperamentais. Na África são cultuados mais de duzentos orixás, mas grande parte desta tradição se perdeu na vinda dos negros para o Brasil, e aqui são cultuados apenas dezesseis. Desenvolveu-se especialmente na Bahia, baseado em diversas tradições de origem africana.

Há muita confusão desta religião com a Umbanda, que é uma religião brasileira, que mesclou alguns elementos do espiritismo Kardecista, com catolicismo e também alguns aspectos do candomblé e da pajelança indígena. É uma religião relativamente nova, o primeiro centro de Umbanda do país, a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, foi aberto em 1908, no Rio de Janeiro, e funciona até hoje.

Pode-se dizer que a Umbanda assumiu o sincretismo de maneira mais efetiva. Na maioria dos terreiros de Candomblé hoje em dia, já não se usam mais imagens de santos católicos.

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Entenda tudo sobre a cultura afro-brasileira:

  • Como se desenvolveu a cultura afro-brasileira? A cultura afro-brasileira surgiu ainda nos tempos do Brasil colônia quando os escravos negros foram trazidos da África. Desde então a cultura africana sofreu alguma influência de outras culturas como a europeia e indígena. Por isso que atualmente ela tem referências culturais de outros lugares.
  • O que é uma manifestação cultural afro-brasileira? A manifestação cultural afro-brasileira é o resultado da mistura da cultura africana com a dos índios e europeus. Ela pode ser observada tanto na música quanto na culinária, capoeira e religião.
  • Qual a importância da cultura afro-brasileira? É de grande importância já que é a base tanto da cultura quanto das tradições brasileiras. Os escravos contribuíram, e muito, não apenas na economia como também na cultura do país.
  • Como a cultura afro-brasileira impacta a arte contemporânea? A cultura afro-brasileira tem sido incorporada à arte contemporânea com o intuito de gerar inclusão, valorização e exposição da beleza negra. O intuito disso é fazer com que a sociedade entenda o quanto que o Brasil é dependente e sofre influência da cultura e tradições da África.
  • O que é a lei Áurea? A Lei Áurea concedeu liberdade aos escravos que ainda existiam no Brasil, cerca de 700 mil. Quem a sancionou foi a Princesa Isabel na data de 13 de maio de 1888.

Como conhecer melhor a Cultura Afro-Brasileira?

Treze anos após a  Lei 10.639 ser sancionada, ainda há muitas dificuldades na disseminação do conhecimento sobre a cultura afro-brasileira. Entre os fatores que mais dificultam a consolidação deste conhecimento, estão o racismo, o preconceito e a intolerância religiosa. A falta de conhecimento resulta em atitudes inexplicáveis, mas que deve ser compensada com informação e conhecimento.

Sempre fez muito sentido a frase de George Santayana, que diz que “Aqueles que não conseguem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo”. Há muito material nas bibliotecas, nas ONG’s e associações voltadas à cultura afro-brasileira. Sabemos que o tempo pode ser pouco, por isso fazer um curso online sobre o assunto também vai esclarecer e deixar muito mais saudável a forma como se lida com a diversidade de ideias e costumes.  E esse é um bom primeiro passo para que as ideias de igualdade comecem a prevalecer.

E você conhece mais algum aspecto inspirador da Cultura Afro-Brasileira? Comente com a gente!

 

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